domingo, 27 de fevereiro de 2011

A REMUNERAÇÃO, OS CONCURSOS E ALGUNS PROFESSORES E PROFESSORAS: ASPECTOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA HISTÓRIA DE ARACAJU - VII

Defendendo que as escolas voltassem a adotar o ensino religioso, Olímpio Campos se elegeu deputado, organizou o Partido Católico e, em 1899, venceu a eleição para a presidência do Estado.
Abdias Bezerra nasceu no dia sete de setembro de 1880 na então Vila de Siriri. Era filho do professor João Amâncio Bezerra e da sua mulher, Hermínia Rosa Bezerra. Antes de iniciar os seus estudos secundários no Ateneu Sergipense, fora aluno das escolas de Siriri, Itabaiana e Japaratuba. Em março de 1900, matriculou-se na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, onde fez o curso secundário e o primeiro ano do ensino superior, sendo expulso em 1904, depois de ter participado da revolta do mês de novembro daquele ano. Regressou a Sergipe e iniciou a sua carreira de docente, lecionando em escolas privadas. Em maio de 1909 foi aprovado em concurso público para a Cadeira de francês do Ateneu. Em 1911, transferiu-se para as Cadeiras de aritmética e álgebra, do curso ginasial. Em seguida passou a ensinar português, até o ano de 1915, quando assumiu as Cadeiras de geometria e trigonometria. Um ano depois, em junho de 1916, voltou outra vez para as Cadeiras de geometria e trigonometria. Era um caso raro de professor capaz de lecionar em várias áreas.
Em novembro de 1922, Abdias Bezerra assumiu o cargo de diretor do Ateneu Sergipense. Em abril de 1923 foi dirigir o curso comercial Conselheiro Orlando e em maio do mesmo ano passou a exercer o cargo de diretor da instrução pública do Estado. O professor Abdias Bezerra morreu no dia 14 de junho de 1944.
O sepultamento de Abdias Bezerra foi um acontecimento político e social marcante na vida da cidade de Aracaju do ano de 1944. O percurso da casa do seu filho, Felte Bezerra, onde foi velado, à rua Maroim, até o Cemitério Santa Izabel foi feito a pé, acompanhado por uma multidão de personalidades políticas e por estudantes das principais escolas da cidade de Aracaju, que formaram duas alas que transportavam coroas fúnebres e flores naturais. Após estas alas, um grande acompanhamento de automóveis, bondes e ônibus. Antes do corpo ser sepultado, discursaram o interventor substituto, Francisco Leite Neto; o representante da Escola Normal Rui Barbosa, professor José Calasans Brandão; o representante do Colégio Estadual de Sergipe, professor Franco Freire; o representante do Ginásio Tobias Barreto, professor João de Araújo Monteiro; o jornalista Freire Ribeiro; o representante do corpo discente do Colégio Estadual de Sergipe, Clodomir Silva; o representante da Maçonaria, José Felizola; o representante dos operários, João Vieira de Aquino; o seu ex-aluno, José de Matos Teles; e o diretor do Departamento de Educação, Acrísio Cruz.
Desde a fundação do Atheneu, entre os professores do sexo masculino, era comum associar o exercício da docência ao de outras profissões valorizadas socialmente como a medicina, a advocacia, a engenharia e a farmácia. O caso do médico e professor de História Natural Helvécio de Andrade ilustra bem essa prática. Do mesmo modo como é ilustrativo de outro dado recorrente, no caso dos professores do sexo masculino: o exercício de funções públicas no Executivo, no Legislativo ou no Poder Judiciário. Helvécio de Andrade ocupou, por três vezes, o cargo de diretor da instrução pública, entre os anos de 1913 e 1935. Delegado fiscal do governo federal junto ao Atheneu Sergipense, foi professor e diretor da Escola Normal, onde trabalhou como lente das Cadeiras de História Natural, Pedagogia, Pedologia, Higiene Escolar e Ciências Físicas e Naturais. Foi militante ativo do Centro Socialista Sergipano, da Hora Literária, ocupante da Cadeira número quinze da Academia Sergipana de Letras, do Centro Literário Educativo, da Sociedade Médica de Sergipe e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Dirigiu, em Sergipe, a Associação Brasileira de Educação. Criou a biblioteca da Escola Normal e organizou as “conferências cívicas e pedagógicas”. O seu entusiasmo com o modelo das reformas de São Paulo teve início quando ele trabalhou em Santos, como Inspetor Geral da Educação, na última década do século XIX, antes de transferir-se para Sergipe.
Em 1909, o presidente de Sergipe, Rodrigues Dória, trouxe de São Paulo o professor Carlos da Silveira, para reorganizar a instrução pública. Carlos da Silveira permaneceu cerca de um ano em Aracaju, retornando em seguida a São Paulo, onde passou a atuar como professor do Instituto Pedagógico.
O professor Adolfo Ávila Lima, inspetor geral do ensino, um dos fundadores, em 1916, da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, teve papel destacado nas discussões da Pedagogia Moderna e da Escola Nova, em Aracaju.
Professor de Química Orgânica e Instrumental do Curso de Química Industrial da Escola Politécnica da Bahia, Archimedes Guimarães chegou a Sergipe em 1923, convidado pelo presidente Maurício Graccho Cardoso, para dirigir o recém fundado Instituto de Química Industrial.
Outro importante intelectual da educação em Sergipe durante a primeira metade do século XX foi Walter Cameron Donald (06/01/1883-06/03/1967), vindo de Salvador em 1904 (NASCIMENTO, 2004). Na década de 1930, lecionou a disciplina Inglês no Colégio Atheneu Sergipense, adotando o livro “The English Gymnasial Grammar, Méthod Direct-Expository by Hubert C. Bethel”.
José Calazans deixou registros da sua marca de professor da Escola Normal e de pesquisador em Aracaju. Esses registros têm sido objeto da preocupação de poucos pesquisadores, é certo, mas de modo crescente vem merecendo reflexões por parte de estudiosos como Maria Thétis Nunes e Luiz Antonio Barreto. Também digno de registro é o trabalho de Carlos Antônio dos Santos, O Senhor da Velha Guarda: notas acerca do pensamento historiográfico de José Calazans (1999). Trata-se de uma monografia apresentada para conclusão do curso de graduação em História da UFS no ano de 1999.
Nos últimos tempos, a obra de Calazans encontrou em Itamar Freitas um bom inventariante e analista. Ao encerrar uma série de artigos que publicou no jornal Gazeta de Sergipe sob o título “Diálogos com Calasans”, este autor afirma que buscou “demonstrar o valor do trabalho pioneiro de Calasans, tanto em relação à história da historiografia como no esboço do tipo ideal de escrita da história no início dos anos 1970. Nesse suposto diálogo, ficou evidenciado o crescimento considerável dos estudos sobre a economia”. Depois de destacar a vida social, a política e a cultura, o analista aqui citado acrescenta a importância da “atividade historiadora em pelo menos três ‘gêneros’ trabalhados por Calasans: historiografia didática, biografia, e história dos municípios”.
O trabalho de José Calazans pode ser tomado sob três pontos de vista - o professor, o administrador da política educacional e o pesquisador de História da Educação. Com toda a certeza, todos têm conhecimento do óbvio fato de haver Calazans contribuído como professor, posto que esta foi, ao longo da sua vida, a sua principal atividade econômica. Mas, quando se trata de dar conteúdo a este aspecto da sua existência, são quase inexistentes os estudos que nos permitem compreender quem foi o professor Calazans, sob quais padrões intelectuais atuou e de que modo se vinculou institucionalmente. Falo não da sua atividade como docente e pesquisador da Universidade Federal da Bahia, mas sim busco os registros do seu trabalho nas instituições escolares de Sergipe, antes da sua mudança para Salvador. Alguns estudos da área indicam que o professor aqui analisado atuou como docente da Escola Normal Rui Barbosa a partir da década de 1940, mas ainda não deram conta de esclarecer o seu trabalho na congregação daquele centro de formação de professores, o programa que oferecia nas disciplinas que ministrava, os livros que adotava, sua relação com os alunos e outros aspectos da sua prática pedagógica. Os estudiosos do campo até agora centraram as suas atenções, ainda que timidamente, apenas sobre a tese de concurso com a qual este foi aprovado, em 1942, para a Cadeira de História do Brasil e de Sergipe: Aracaju: contribuição à história da capital de Sergipe, trabalho publicado no mesmo ano pela Livraria Regina.

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