terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

OS ESTUDOS SOBRE INTELECTUAIS NA HISTORIOGRAFIA DE MARIA THETIS NUNES - II

Durante trinta e um anos, no período de 1968 a 1999, a professora Maria Thetis Nunes publicou cinqüenta e quatro trabalhos, estudando a vida e a obra de trinta e oito intelectuais. Foram vinte e cinco professores, sete historiadores, quatro políticos, quatro artistas plásticos, quatro literatos, três clérigos, três engenheiros, três médicos, dois militares, um economista, um arquiteto, um filólogo, um filósofo e um sociólogo.
Os dois primeiros estudos sobre intelectuais publicados por Maria Thetis Nunes datam do ano de 1968 : um trabalho sobre o escritor William Faulkner e um outro sobre D. Mário de Miranda Vilas Boas, importante líder do clero católico, formado pelas primeiras turmas do Seminário Diocesano Sagrado Coração de Jesus, criado em Sergipe no ano de 1913 pelo bispo D. José Thomaz.
Na década de 1970, foram dezessete os estudos sobre intelectuais produzidos pela autora aqui estudada. Os três estudos realizados no ano de 1972 versaram sobre arte , enfatizando os trabalhos do Aleijadinho e de Debret. Eles foram realizados no contexto das comemorações do sesquicentenário da independência do Brasil, celebrado naquele ano. Dos quatro trabalhos que circularam no ano de 1973, dois traziam a marca da polêmica. A autora produziu dois textos críticos a respeito da historiografia do professor Acrísio Torres Araújo , à época professor da Escola Normal e um celebrado autor de livros didáticos de História de Sergipe. Os outros analisaram as trajetórias de vida de Clodomir Silva e Pero Vaz de Caminha . Em 1974 a literatura e a arte voltaram a ser temáticas da predileção de Maria Thetis Nunes nos seus estudos sobre intelectuais. De quatro trabalhos publicados, três tinham tal perfil: um estudo sobre Jenner Augusto , um outro sobre Horácio Hora e mais um a respeito da obra de Martin Fierro . O outro texto teve como preocupação os cinqüenta anos da morte do dicionarista Armindo Guaraná . Em 1975, apenas um trabalho sobre intelectuais, analisando a obra do professor José Calazans . No ano de 1976, a marca dos estudos sobre intelectuais publicados por Maria Thetis Nunes, é a atividade médica: um texto sobre o médico Garcia Moreno e um outro a respeito de Manuel Bonfim . O terceiro trabalho versa sobre um militar . Um estudo sobre arquitetura marcou o ano de 1977, enquanto no ano seguinte a autora se voltou a estudar um professor do Atheneu .
Durante a década de 1980 está concentrada a maior parte da produção dos estudos de Maria Thetis Nunes sobre intelectuais. No período de 1980 a 1989, ela publicou vinte e dois trabalhos acerca do tema. Dois textos circularam em 1980, dedicados a estudar docentes contemporâneos da autora . Um deles, Joaquim Vieira Sobral, era o diretor do Atheneu no momento em que, adolescente recém chegada de Itabaiana, Maria Thetis ingressou no curso ginasial, em 1935, conforme revela em entrevista que concedeu a Maria Nely Santos: “vivi a época mágica do Atheneu de grande desenvolvimento, de grande movimento cultural, de grandes professores e do grande diretor Joaquim Vieira Sobral, a quem eu devo muito por ter me dado um apoio forte” . No ano seguinte, mais um trabalho sobre o magistério . Desta vez um estudo muito importante para Maria Thetis, posto que examinava a figura do seu professor de História no Atheneu, Arthur Fortes:

Arthur Fortes estava com 54 anos quando lhe ministrou a primeira aula de História. Daí em diante, ouviu e recebeu seus ensinamentos por sete anos ininterruptos. Tempo suficiente para o florescimento de uma amizade nutrida pelo respeito, pelo carinho e pela admiração. Como se não bastassem os dotes intelectuais do professor Arthur Fortes, fisicamente era uma figura bonita, elegante e carismática. Um gentleman. Tantas qualidades num só indivíduo impressionaram profundamente a jovem aluna, que acabou associando a figura do pai à dele .

Antes porém que se encerrasse o ano seria publicado um estudo tratando de um intelectual militar . O general José Inácio de Abreu e Lima durante toda a sua vida se notabilizou pela forma radical com que defendera suas posições liberais. Pertenceu ao estado-maior do exército de Simon Bolívar e ao voltar a Pernambuco, sua terra natal, tinha o prestígio que lhe foi conferido pelas condecorações que recebeu como libertador da Nova Granada e da Venezuela, depois de ter ficado ausente da terra onde nasceu, durante 24 anos.

No momento em que regressou estava eclodindo a revolução praieira, de 1848. Alistou-se ao lado dos liberais e lutou em defesa da nacionalização do comércio, por eleições diretas, em favor da descentralização do poder das províncias e pela instituição do casamento civil. Após a derrota do movimento, dedicou-se Abreu e Lima a uma intensa atividade intelectual. As suas posições políticas faziam do general simpatizante da Igreja Anglicana. Distribuiu com algumas famílias recifenses bíblias impressas em Londres .

Os dois estudos sobre intelectuais publicados por Maria Thetis Nunes em 1983 estão voltados para a História da Educação . Em 1984, três estudos: um sobre o agitador cultural Eurico Amado, um outro sobre o processo de formação do território e do povo sergipano e mais um sobre uma professora contemporânea sua . Dois estudos sobre o magistério , um sobre o jornalismo e um outro acerca de problemas historiográficos dão o tom dos trabalhos sobre os intelectuais que a autora publicou no ano de 1985. Em 1986, as temáticas versaram sobre a Sociologia e a Historiografia . Este último tema, continuaria presente na produção do ano seguinte, com dois estudos , enquanto dois outros retomaram o velho debate sobre os docentes dos quais a autora fora aluna . Dois trabalhos produzidos em 1988 se debruçaram a respeito de um professor e de um literato , enquanto no ano de 1989 um filósofo foi objeto do único texto sobre intelectuais publicado pela autora .
Por fim, entre os anos de 1992 e 1999, doze trabalhos sobre intelectuais marcaram a produção de Maria Thetis Nunes. Um sobre o magistério, publicado em 1992 ; um outro acerca da historiografia , em 1994; um tendo a política como tema e um outro a respeito da historiografia , ambos em 1996. A produção do ano de 1998 reúne quatro trabalhos: dois tendo a magistério como temática , um outro a respeito de um importante engenheiro brasileiro e um quarto acerca do filósofo sergipano Tobias Barreto . Em 1999, também foram quatro os artigos sobre intelectuais publicados pela autora: ela voltou a escrever sobre o engenheiro Rebouças , fez um trabalho sobre o magistério , produziu mais um a respeito da historiografia e um outro sobre um importante agitador cultural .
Os trinta e oito intelectuais estudados por Maria Thetis Nunes, contudo, marcaram não apenas a vida sergipana. Plenamente identificados com a vida de Sergipe estão vinte e cinco deles. Professores nascidos em Sergipe, como José Antônio da Costa Melo , Norma Monte Alegre , Luis Carlos Rollemberg Dantas , Jorge de Oliveira Neto , Arthur Fortes , Manuel Luiz Azevedo d’Araujo , José Rollemberg Leite , Garcia Moreno , João Ribeiro , Joaquim Sobral , Clodomir Silva , Felte Bezerra , José Calazans , Ovídio Valois Correia , Tobias Barreto e Alberto Carvalho . Nesse mesmo grupo há pessoas que nasceram em outros Estados, mas marcaram a vida sergipana, a exemplo de Acrísio Torres Araújo , natural do Ceará, que atuou aqui como docente, livreiro e autor de livros didáticos de História e Geografia de Sergipe. Também nascidos em Sergipe são historiadores, como Felisbelo Freire e Carvalho Lima Junior ; artistas plásticos, a exemplo de Horácio Hora e Jenner Augusto ; médicos, como Manuel Bonfim ; agitadores culturais como Eurico Amado e Gilberto Amado ; políticos, a exemplo de Fausto Cardoso ; sociólogos, como Florentino Teles de Meneses ; profissionais do Direito, a exemplo de Armindo Guaraná ; clérigos, como D. Mário Miranda Vilas Boas ; e, jornalistas, como Orlando Dantas .

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