sábado, 26 de fevereiro de 2011

A REMUNERAÇÃO, OS CONCURSOS E ALGUNS PROFESSORES E PROFESSORAS: ASPECTOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA HISTÓRIA DE ARACAJU - VI

OS INTELECTUAIS DA EDUCAÇÃO


Não obstante o fato de estarem exclusivamente dedicados ao ensino ou de acumularem outras atividades os professores eram reconhecido por uma identidade comum: a de intelectuais da educação. Esta era, aliás, a principal oportunidade que tinham as pessoas do sexo feminino de receberem reconhecimento intelectual e angariar prestígio social, econômico e político. São casos como os de Norma Reis, empresária do ensino e proprietária do Instituto América, e de Etelvina Amália de Siqueira.
As experiências de vida dos intelectuais da educação da cidade de Aracaju não são iguais e não podem ser generalizadas. Todavia, a apresentação de algumas trajetórias permite a compreensão de contextos familiares e outros elementos importantes para a explicação das práticas escolares. Aspectos comuns e distintos do processo de socialização familiar.
No caso da Escola Normal, os vários registros encontrados sobre o seu corpo docente dão conta de histórias de vida de professores que aparecem sempre como modelos, construídos por eles mesmos, pelas suas alunas e por outros contemporâneos através de múltiplas formas de representação. “Apesar do rigor do processo de ensino, da disciplina excessiva, das múltiplas avaliações, as ex-normalistas apontam a competência, o alto nível de conhecimento, a postura pedagógica e a efetiva participação social de alguns de seus professores” (FREITAS, 2003a, 104). No entanto, há também o registro de críticas a frágil formação específica de alguns profissionais, bem como a alguns métodos de trabalho empregados.
A reconstrução das trajetórias dos intelectuais pode ser feita através dos registros de suas experiências de vida: registros da imprensa, documentos institucionais e particulares referentes a formação, atuação profissional e política, atas, relatórios, processos, teses, depoimentos (orais e escritos), cartas e fotografias.
O sociólogo alemão Norbert Elias (ELIAS, 2001, 50) abordou as possibilidades dos estudos que buscam relacionar história e sociologia. Para o estudo das trajetórias dos intelectuais as reflexões de Elias são muito importantes, uma vez que permitem buscar o entendimento das figurações (configurações), nas quais estiveram inseridos e as relações de interdependência que estabeleceram:


A tarefa da sociologia é trazer para o primeiro plano justamente aquilo que costuma aparecer na pesquisa histórica como segundo plano desestruturado, tornando tais fenômenos acessíveis à investigação como o nexo estruturado dos indivíduos e de seus atos. Nessa mudança de perspectiva, os homens singulares não perdem, como às vezes tendemos a considerar, o seu caráter e valor enquanto homens singulares. Porém eles não aparecem mais como indivíduos isolados, cada um totalmente independente dos demais, existindo por si mesmo. Não são mais vistos como sistemas fechados e vedados, cada um contendo o esclarecimento final acerca de um ou outro evento histórico, constituindo um começo absoluto. Na análise das figurações, os indivíduos singulares são apresentados da maneira como podem ser observados: como sistemas próprios, abertos, orientados para a reciprocidade, ligados por interdependências dos mais variados tipos e que formam entre si figurações específicas, em virtude de suas interdependências.


Desde que o Atheneu Sergipense iniciou suas atividades, em 1871, muitos foram os intelectuais do sexo masculino que se legitimaram como tal através da atividade docente, como Pedro Oliveira de Andrade, professor catedrático da Cadeira de Geometria; José João de Araújo Lima, da Cadeira de História Universal; Alfredo de Siqueira Montes, da Cadeira de Inglês, que também foi Chefe de Seção da Secretaria do Governo; Ascendino Ângelo dos Reis, Raphael Archanjo de Moura Mattos, Pedro Oliveira de Andrade, Antônio Diniz Barretto, Tito Souto, Geminiano Paes Andrade e Brício Cardoso.
O bacharel Manoel Luís Azevedo D’Áraújo, formado pela Faculdade de Direito de Recife e crédulo de que a educação era a única força capaz de mudar a vida social dos sergipanos era o Inspetor Geral das Aulas, em 1870.
Brício Cardoso foi um importante intelectual de Sergipe que nasceu e viveu sempre com muitas dificuldades materiais, não obstante ter conseguido à época oferecer aos seus filhos a adequada formação acadêmica e ter visto um deles, Maurício Graccho Cardoso, transformar-se em presidente do Estado. Brício Cardoso atuou como professor de Retórica e Poética do Atheneu Sergipense.
Olímpio Campos nasceu no dia 25 de julho de 1853 no engenho Periquito, em Itabaianinha, e morreu no Rio de Janeiro no dia nove de novembro de 1906 (GUARANÁ, 1925). Estudou no Seminário da Bahia, no período de 1870 a 1873, período durante o qual residiu na casa do professor Severiano Cardoso. Segundo Terezinha Oliva,


Olimpio Campos erigiu-se em chefe da vida política estadual. Guiando-se com firmeza e objetividade, sob o rígido controle, de acordo com um plano previamente traçado (...) Acostumado às lutas, aos avanços e recuos estratégicos, aos rompimentos e as conciliações, assegurou, imperturbável, o domínio da situação, respondendo com intransigência as criticas que lhe eram dirigidas (SOUZA, 1985, 71).


Sua trajetória política teve início depois que a reforma do presidente Inglês de Souza laicizou o ensino, desobrigando a Província de custear o ensino religioso e exonerando os professores primários de religião. Olímpio Campos tomou posição, afirmando que as escolas não mais teriam fé e seriam “dirigidas por mestres sem Deus” (CAMPOS, 1882, 2).

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