sábado, 17 de outubro de 2009

SOBRE OS ALEMÃES EM SERGIPE

Jorge Carvalho do Nascimento[1]


É farta a bibliografia brasileira acerca da imigração alemã. Todavia, os estudos centram sua atenção principalmente sobre os três Estados da região Sul e algumas áreas da região Sudeste que receberam muitos colonos oriundos da Alemanha, principalmente no período que vai da segunda metade do século XIX até o final da Segunda Guerra Mundial, na década de 40 do século XX. A maior parte dos estudos sobre o problema construiu uma representação segundo a qual a presença alemã no Brasil estaria reduzida a essas regiões, obscurecendo as possibilidades de outras interpretações. É óbvio que, estatisticamente, a presença alemã no Sul do Brasil é bem mais expressiva que nas outras regiões. Há, contudo, muitos registros de imigrantes alemães em outras áreas do Brasil que ainda não receberam a necessária atenção dos estudiosos da história que se dedicam a este tipo de problema.
É necessário analisar com mais cuidado a importância que teve a presença alemã na região Nordeste do Brasil ao longo do século XIX, principalmente na constituição de modelos explicativos adotados por grupos que se opuseram ao regime monárquico e as suas contribuições ao desenvolvimento econômico. Tal presença é visível principalmente na Província de Pernambuco, onde se desenvolveu o movimento da chamada Escola do Recife, assentando as bases do chamado culturalismo brasileiro. O discurso da intelectualidade alemã foi apropriado por um grupo de estudantes e professores da Faculdade de Direito do Recife e ganhou força, transformando Tobias Barreto em grande expressão do movimento que é conhecido como Escola do Recife. O trabalho de Tobias Barreto levou a intelectualidade pernambucana a assumir com muito entusiasmo as idéias de teóricos alemães como Ernest Haeckel, Rudolf von Jhering, Hermann Post e Eduard von Hartman. Mas, os padrões explicativos alemães também foram fortes no movimento da Escola Tropicalista Baiana, organizada em torno da Faculdade de Medicina da Bahia. Merece menção ainda a chamada Padaria de Idéias, movimento que se organizou no Ceará em face da influência de alguns intelectuais que se formaram sob a orientação intelectual do grupo da Escola do Recife.
A colonização alemã no Brasil teve início em 1818, com a fundação da Colônia Leopoldina no município de Mucuri, sul da Bahia, pelo cônsul alemão Peter Peycke e pelos naturalistas G. W. Freireiss e Morhardt.
Dessa colônia participavam 133 pessoas. Em 1822 uma outra colônia alemã foi fundada no Vale do Peruíbe, bem próxima da Colônia Leopoldina. A Colônia Frankental, este segundo núcleo, trouxe colonos da região de Francônia. No mesmo ano, Peter Weyll criou uma outra colônia alemã na Bahia. Eram 161 pessoas que se estabeleceram na margem esquerda do rio Cachoeira, próximo ao atual município de Ilhéus. Naquela região do Estado da Bahia são comuns sobrenomes como Lorenz, Schaun, Berbert, Holenwerger e Weyll.
Dados sobre a imigração alemã no Brasil revelam que entre os anos de 1836 e 1948 entraram no país cerca de 260 mil alemães. Nesse mesmo período, os imigrantes portugueses somam 1.766.771. Os italianos representam 1.620.344 pessoas, enquanto são espanhóis 719.555 imigrantes. Apenas estes três grupos étnicos têm uma participação maior na colonização do território brasileiro que os alemães.
É necessário que os pesquisadores também comecem a oferecer contribuições para a compreensão da presença alemã em Sergipe. O tema ainda não mereceu um estudo mais aprofundado por parte dos estudiosos da história sergipana, não obstante a sua importância. Existe a possibilidade de se obter informações em diferentes fontes, como textos e documentos sobre a história de Sergipe, nos quais as referências estão dispersas. Além disso, é possível produzir levantamentos na documentação existente na embaixada e nos consulados alemães em funcionamento no Brasil e no Ministério das Relações Exteriores brasileiro, nos relatórios produzidos pelo Governo de Sergipe durante os períodos do Império e da República, bem como registros existentes na imprensa local, no Arquivo Geral do Poder Judiciário do Estado de Sergipe e na documentação privada dispersa, em poder de alemães e dos seus familiares e descendentes. .


[1] Doutor em História da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Departamento de História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Como bolsista da Fundação CAPES, foi pesquisador na Johann Wolfgang Göethe Universität-Frankfurt am Main, na República Federal da Alemanha, em 1994 e 1995.

Um comentário:

  1. Sou um entusiasta da cultura alemã, e atualmente estou estudando alemão de forma autodidata. Gostaria muito de saber um pouco sobre a influência dos alemães aqui em Sergipe,por isso vou continuar lendo os demais posts do blog. Gostaria de saber um pouco da sua experiência na Alemanha...vou deixar meu contato...

    Abraço.

    Wesley Gonçalves
    Engenheiro Agrônomo
    Estudante de Jornalismo - UFS
    Servidor Público
    Comentarista Esportivo

    Twitter - @futnodetalhe
    Email - wesley.1007@yahoo.com.br

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